Começa o filme. Floresta, cores, aves, música... esse é o Rio, não há dúvidas. De repente um lugar vazio, frio, muita neve na rua... é o Canadá! Só pode ser Aqui!!! (certo... não é aqui, mas é igualzim, então na minha imaginação é, tá?)

Alguma maneira melhor de começar um filme do que se sentindo parte dele?



Saudade? Puxa... se deu...

Olha o Rio! Tá vendo o sol? A praia? As cores? Quanta gente bonita e feliz? Olha Copacabana, o Jardim Botânico, o bondinho de Santa Tereza! Pois é, eu vim de lá!

É claro que eu não cutuquei o cara do lado pra dizer isso, mas que deu vontade, deu. Talvez ele até tenha percebido quando eu comecei a acompanhar a música batucando no braço da poltrona ou quando comecei a cantarolar a canção ou quando eu ri bem alto quando o personagem falava português e só eu entendia...rss

É muito legal poder identificar cada lugarzinho, cada detalhe que só quem morou ou nasceu no Rio de Janeiro saberia identificar. É muito real, das construções do centro do Rio aos ônibus no engarrafamento, Carlos Saldanha fez um brilhante trabalho. Eu só lamento muito ele não receber seu devido reconhecimento no Brasil. Na versão original, em inglês, quem faz a dublagem do personagem Túlio é o Rodrigo Santoro. E eu fico aqui me perguntando se ele foi reconhecido por isso ou se seu talento foi apagado pela super valorização que deram ao elenco americano. Mas isso é assunto para um outro dia.

Agora eu quero falar da minha emoção. Imagino que seja uma sensação diferente de quem assiste de uma poltrona tupiniquim. Daqui do polo frio as cores falam por si. Quantas cores! Elas saltavam pela tela e inundavam a sala. Era tão real que as vezes podia jurar que estava sentindo o calor do sol e a areia fininha nos meus pés. O coração batia na cadência do tum-tum-paticuntum-ziriquidum da canção.

Foi muito legal ver meu Rio numa telona gringa. Se eu chorei? Claaaaaro que não! Você sabe como é, aquilo foi só o esforço das vistas por causa do efeito 3D. =P
A história é mais ou menos assim: depois de meses pesquisando um lugar para ficar a conclusão que se chega é que um studio é a melhor opção. Depois que você realmente chega, se dá conta de onde você foi se meter. É um aperto só, de manhã a primeira coisa que você vê é o fogão... tudo o que tem disponível pra você é o essencial do essencial: uma panela, dois pratos, duas copos, dois garfos, e se tiver duas colheres, meu amigo, comemora, você é um sortudo...

Mas e quando chega a hora de lavar a roupa? Porque isso também é essencial, mas uma máquina de lavar é a última coisa que você vai ver num studio, e na banheira colocar a roupa de molho não é uma boa idéia... aí não tem jeito, tem que ir pra lavanderia. Se você tem nojo, meu conselho: trabalha isso. Lavanderia vai passar a ser parte da sua vida.

Minha primeira experiência com uma lavandeira foi um desastre. Pra começar, resolvi encarar meus nojos. Dei uma passada por lá, queria dar uma olhada pra ver quais eram os frequentadores (sério, eu fiz isso). Depois, se as máquinas eram limpinhas... Depois, e o mais importante de tudo, quanto custava.

Nunca usei uma lavanderia no Brasil, não sei muito bem como isso funciona, aqui não dá pra levar roupa molhada pra casa (aquele molhado depois de centrifugar, sabe?), mesmo porque acordar olhando pro fogão já não é legal, com um varal na cabeça então... e depois está nevando lá fora, é bem possível que sua roupa congele pelo caminho. Então, lavar é uma máquina, secar é outra, e você paga pra lavar e secar. Pois bem, na lavanderia da esquina: frequentadores - ok; equipamento - ok; Preço: lavagem - $1,25; Secagem - 0,25 cents (muito ok); Sabão - 0,75 cents. Conclusão final: está mais barato do que lavar na lavanderia do seu prédio (quase todos tem uma lavanderia no porão/basement).

Então, fiz minha trouxinha e lá fui eu toda contente e feliz, lavar minha roupinha.
Cheguei e já fui olhando dentro das máquinas, afinal quem vai querer um cabelo que não é seu tomando banho com suas roupas, não é mesmo?

Primeiro passo: Pegar o sabão. Coloquei as moedinhas, apertei o botão e lá vem a caixinha máquina abaixo. Uma coisinha um pouco maior que uma caixinha de fósforo... Oi? isso aqui é o sabão? Mais aí você sempre ouviu falar, em todos os blogs que você já leu, que os produtos aqui são muito bons, então você se convence que essa é a quantidade ideal e pronto.

Coloquei cuidadosamente minha roupinha na máquina. Quando já estava quase toda lá dentro, vem o funcionário que já estava me filmando desde quando eu cheguei e abri todas as máquinas em busca de um pentelho pelinho e diz: "É muita roupa, você precisa usar duas máquinas". Ok, ele tem razão... quem mandou fazer tanta "pesquisa", né? Abri a máquina do lado (verifiquei lá dentro, claro) dividi as roupas e... minha nossa... vou precisar de outra caixa de sabão... Certo, agora são duas máquinas e duas caixas de sabão, a conta aumentou.

Então, 25 minutos depois a máquina termina o ciclo, pego a cesta pra levar as roupas pra secadora, começo a retirar as roupas lá de dentro rezando pra que estejam todas limpinhas e cheirosas, mas adivinha? as roupas não estão limpinhas e nem cheirosas como eu queria. Ou o sabão não era suficiente ou não era tão concetrado assim, fui enganada! rss

Certo, o que fazer? São 10 horas da noite, você tem fome, raiva do dinheiro que já gastou, dos 20 minutos que ficou assistindo a máquina lavar a roupa, da roupa que continua suja... não há o que fazer, coloca tudo ali na secadora e pronto.

Para minha felicidade, a secadora era bem grande, cabia toda a roupa e custava só 25 centavos! E enquanto eu não sabia quanto tempo era preciso para secar toda aquela roupa, eu ainda era feliz e não sabia. Para secar tudo aquilo eu precisava de 30 minutos! 30 minutos meu senhor? Como assim? Você não sabe o que pensar. Mais 30 minutos dentro da lavanderia lendo jornal de ontem? em francês? Faz as contas, 30 minutos... 25 centavos por 5 minutos... abre a carteira, não tem mais moedas! O que poderia ser pior?

Mas agora você está no primeiro mundo, tudo aqui foi feito para facilitar a vida do cidadão (ou não) e logo ali tem uma máquina que troca notas de papel em moedas. Ainda bem que eu tinha uma nota de 10 dolares na carteira que num passe de "máquina" se transformaram em muitas, muitas moedas. O melhor é quando as moedas começam a cair. Um escandalo de moedas caindo numa bandeijinha de metal. Todo mundo olha, claro. Agora, além do saco de roupa "suja" que eu tinha que levar de volta pra casa, tinha meio quilo de moeda também...

Volto pra casa com a sensação de dever cumprido? Não!
Me sinto uma tonta... gastei dinheiro e a roupa não está tão limpinha quanto eu queria...
Mas agora eu aprendi. O esquema pra se lavar roupa na rua é assim: Primeiro você precisa comprar um sabão. Compre o líquido porque eles são realmente muito bons. Procure nas promoções. Graças ao meus novos amigos Ana e Alex, conheci o site Supermarche (anota isso aí imigrante, vai te ajudar muito!) e pude comprar o sabão por uma pechincha. Lave no basement do seu prédio, você vai lá de chinelo (nada de casaco ou bota de neve), volta pra casa até o ciclo terminar, vê o jornal de hoje, volta lá, troca a máquina e advinhem? Gasta menos! Pelo menos aqui a secadora tem o ciclo de 1 hora e custa $1,35.

Tem só dois incovenientes: 1 - você precisa carregar um cartão pré-pago (essa não é de moedinhas, muita modernidade) e a recarga mínima é 10 dolares e 2 - você vê seus visinhos na íntimidade do momento Amélia (e eles você). Mas no final o saldo é bom: é mais barato, economiza tempo e minha roupinha ficou bem limpinha dessa vez.

A idéia de lavar a roupa em uma máquina pública não me agrada muito, mas a água da lavagem é muito quente, então eu me convenci de que isso esterelizava tudo, afinal a roupa precisava ser lavada de alguma forma e em algum momento. Mas se ainda assim você sentir nojinho segue mais uma grande dica: nunca, em hipótese nenhuma, jamais! abra a máquina do lado que está no meio do ciclo de lavagem do vizinho indiano que mora no andar de cima! É sério!!!
Tarda, mas não falha. Antes tarde do que nunca! Quem espera sempre alcança. Depois dos imprevistos, dos longos e incontáveis dias de espera, Finally: Residente Permanente!

Montreal, isso sim é uma Torre de Babel. É difícil identificar um canadense! É uma miscelânea de raças que impressiona. Tem aquelas que você bate o olho e identifica logo, tem aqueles que você pensa: É Chines? Japonês? Coreano? dá pra saber não... Tem aqueles que você olha e diz: tem cara de brasileiro, mas aí o cara fala alguma coisa e não é portugues... ai você pensa: brasileiro tem cara de tudo mesmo.... rsss

Já fui surpreendida por muitas coisas nessa terra. Existem coisas que faz você pensar o quanto seu país está atrasado. Outras te decepcionam, porque você pensa como um país tão desenvolvido é assim. Quer ver um exemplo? Sujeira na rua. Como tem lixo nas calçadas, é impressionante. Em alguns bairros a limpeza é impecável (principalmente naqueles que parecem de filme), mas em alguns... O metro mesmo é o lugar do lixo. Jogam tudo pelo chão, largam tudo pelos assentos. Ontem mesmo uma pessoa estava comendo e "esqueceu" sua casquinha de banana no assento do lado. Juro que quase falei: Fia, vc esqueceu sua casquinha de banana ali. E agora vc está se perguntando: Comendo banana no metro? Sim! Eles comem em todos os lugares. Isso é outra coisa interessante. Outro dia uma moça entrou no ônibus e tirou da mochila um pote, um garfo e começou a almoçar sua marmitinha no busão! Suuuper normal. Coisa de local, tô até começando a pensar em fazer o mesmo pra me sentir mais incluída na sociedade... rss

Por enquanto, Montreal e Quebec City são as únicas cidades do Canadá que eu conheço. Uma colega do curso de inglês, que é Colombiana e mora em Montreal há 6 anos, me falou que Vancouver é muito limpa, isso me animou muito. Quando estive em Quebec City, uma das coisas que me chamaram a atenção é que a cidade era mais limpinha do que Montreal. Aqui você vê pelas ruas pote de iogurte, garrafa de refrigerante, jornal, televisão, colchão... as vezes me lembro do Rio Tiête em SP, você podia ver um sofa rio abaixo... rss. É fato, não há muitas lixeiras pelas ruas, algumas estão destruidas, eu bem acho que foi no inverno, qdo eles passam com os tratores limpando as calçadas da neve. Mas pelo tempo que a neve foi embora, ja deviam ter consertado, pelo menos as do centro, onde o volume de pessoas é maior (e o lixo também). Mas nem por isso é certo jogar lixo pelo chão, né mesmo?

Mas deixa eu focar, né? Quero aproveitar esse blog pra contar minhas experiências de menina da roça na cidade grande. E as experiências de imigrantes. Tem muito blog por aí detalhando processo e falando sobre como fazer. Aqui você vai ler o que aconteceu depois do "Felizes para sempre". É mais ou menos assim: dois anos que pareceram 5, você recebe o visto e pensa "ufa, agora sim, minha vida vai voltar a caminhar", mas aí, vc tem que arrumar um emprego novo, casa pra morar, prato, garfo, panela (pq isso não cabe na mala), aprender o novo idioma (ou dois se você for para a parte Française do Canadá), se adaptar ao novo clima, a nova sociedade e aos novos programas da televisão, porque aqui não tem Ana Maria Braga de manhã pra dar a mensagem do dia! rss.

Mas tudo isso é bom, você aprende, cresce, amadurece e se sente uma pessoa melhor e mais forte. O que é difícil mesmo é aprender a lidar com a saudade.

Mas se você ainda está no processo, deixa para se preocupar com isso só quando estiver aqui, concentre-se no idioma. Nunca é o suficiente. É bem verdade que eu mesma me surpreendi comigo, nem eu sabia que sabia tanto... rsss
Mas a necessidade faz a pessoa, né? Na hora do aperto você fala o que sabe, faz mímica, dancinha e no final a promoção número 5 vem certinha.
Se você não está no processo e está só procurando meio de diversão, você está no lugar certo! Com certeza minhas experiências vão render uns bons "micos" pra contar.

Acho que pra começo de conversa tá bom, tenho muitas coisas para falar e uma lista grande de experiências novas. A gente muda a vida e acha que sabe como fazer, depois de um tempo, você vê que não sabia, mas se orgulha porque se saiu muito bem no final! A vida é assim, pode mudar, mas ela continua girando, girando, girando... ainda bem!
Apertem a tecla sap, porque agora é "merci" pra lá, "thank you" pra cá.