Como eu disse no último post, estou com um monte de assuntos esperando para serem escritos no blog, mas cadê o tempo?

A mudança foi mais estressante do que eu esperava que fosse. Para completar a apressadinha aqui começou a fazer o curso de inglês no instante que chegou, o curso que é em tempo integral (!!!). Junte a isso a transferência da internet, de endereço, a busca de um novo apartamento, uma duzia de pilhas de caixas, cancelamento de contas e uma geladeira que parou de funcionar no meio do verão, tarammmm: pessoa estressada!

Outra coisa que contribuiu muito para minha ausência foi o tamanho dessa cidade. Lembra quando eu dizia que Montreal era uma roça grande? Pois a cada dia eu me convenço mais disso... rsss

Eu sinto como se em Montreal eu pudesse funcionar com duas pilhas Rayovac, das amarelinhas, e em Toronto eu preciso estar ligada no 220v ALL-THE-TIME.

Tipo, to me sentindo na cidade grande agora... literalemente.

Mas acho que já posso dizer que estou entrando no novo ritmo, mesmo ele sendo bem frenético. E falando nisso, pro bloguinho querido não ficar tanto tempo desatualizado, eu vou fazendo os posts e publicando. Geralmente eles passam por uma correção ortográfica feita pelo meu personal editor (chique né?), mas tadim, ele também está no 220v igualzim a mim, e um blog ficar dependendo de dois "atrapalhados na cidade grande" pra ser atualizado, ele não vai ser atualizado, né? Então, possíveis erros gramaticais, sintáticos, morfológicos e non-sense poderão estar presente nos próximo  post's (e nesse), então amiguinhos, considerem essa possíbilidade e perdoe a escritora amadora aqui ;-)

E agora com geladeira gelando, internet internetando e eu voltando ao estado normal, organizo minhas ideias e coloco elas aqui em letrinhas tão logo que eu puder, I promise! Afinal, vocês estão interessados em saber mais sobre isso, não estão? (estou ouvindo o simmmmm!!!!!!!)
Querido diário blog, eu sei que tenho deixado você entregue ao completo abandono, culpa minha, claro, quem mandou eu ser tão perfeccionista? Mas eu prometo pra você (e pra vocês também queridos leitores) que eu penso em você todos os dias, em todas as coisas que quero te contar (tenho até feito anotações sobre os assuntos), e que até aqueles posts que comecei a escrever vou terminar o mais breve possível. Pro-me-to!
Primeiro dia no Canadá, eu toda deslumbrada com tudo aquilo a minha volta (leia-se: metros de neve) parei numa esquina de uma movimentada rua de Montreal e disse: Minha nossa, estou no Canada! Nesse exato momento, quase como o mestre dos magos que só aparece pra dar opinião errada e depois some, um ser humano quebeco me apareceu e disse: "- ma chère, vous êtes au Quebec". E disse isso sem biquinho, e com um estranho "lo" no final...

Oi????

Assim, meio que sem entender nada, olhei para o marido e disse: "mas onde é que tá o Quebec, mesmo?" Foi nesse dia que eu aprendi todo aquele blá blá blá de Vive le Quebec libre. Foi nesse dia que eu aprendi tudo que é de mais importante sobre esse país, que não está nos livros, não está na internet, muito menos naquele monte de papel que a gente recebe do consulado junto com os passaportes, nesse dia eu aprendi que esse território se divide em dois: de um lado o azul com a florzinha e do outro o vermelho com a folhinha, de um lado o Quebec de outro o Rest of Canada - ROC.

Isso tudo é loucura? Eu acho que é. Até agora eu acho que o Quebec está perdendo tempo querendo não ser Canadá. Por isso (e por outros motivos) acho que eles deveriam ser país.

E se me permitem a ousadia, eu acho que isso dá até um samba enredo... samba enredo não, uma Toada, com uns lindos rituais de Bumbá... Bumbá não porque aqui não tem tanto boi assim, vamos substituir os bois por Canadian Caribou - Rena, aquela do Papai Noel, se você preferir - de um lado do bumbódromo... digo Renódromo, a Rena Garantida com a folha vermelha na cabeça e do outro lado a Rena Caprichosa com uma flor-de-lis azul. Atrás deles os levantadores de toadas, um em inglês o outro em francês... imagina o delírio da galera? Isso ia virar ponto turístico desse país, já posso até ver entrar para o calendário anual de eventos e ser até mais aguardado que o Baile do Cafona de Colatina.

E antes que você largue meu bloguinho e saia procurando o que é Toada, eu explico: toada é aquela música que cantam durante o desfile do boi (como um samba enredo) na festa de  Parintins, no Amazonas...

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

....

Meu coração é vermelho
Hei! Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
He Ho! He Ho!
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer... 

...

Viu como você já conhecia uma toada...

E eu viajei na maionese, não? Tá, pode até ser, mas que seria uma alegria pra esse povo, isso seria... imagina os quebecos todos de panelinha na mão no desfile desse ano atrás da Rena Azul? hahahahahahahahahahaha

Mas voltando do mundo da lua e focando no nosso assunto:  Resto do Canadá, foi assim que os quebecos apelidaram o "Canadá", e é para lá que eu estou indo agora!

E se você quer saber como vai ser a vida no ROC da nobre Camponesa de bom coração que vai todos os dias ao bosque recolher lenha, não perca as cenas dos próximos capítulos, nesse mesmo blog, nesse mesmo canal! Porque por hoje eu já viajei bastante... rsrsrs

Eu me lembro da primeira conversa que tive com marido sobre o Canadá. Lembro do lugar onde estávamos e exatamente a conversa que tivemos. Ele me trazia uma espécia de cartão postal do Quebec, que foi parar nas mãos dele até hoje não sabemos como. Era uma propagando do governo. Nesse dia, marido pessoa dedicada que é, já havia pesquisado quilômetros de informação sobre o processo de imigração e me contou sobre o que se tratava essa história. Na parede do quarto onde estávamos tinha um mapa mundi, eu levantei, olhei para o mapa, coloquei o dedo bem em cima do Canadá, fiz cara de interrogação e então perguntei: "Quanto tempo de voo?" Meio que sem entender a pergunta (afinal, tantas informações e eu queria saber justo quantas horas de voo?) ele respondeu: "Acho que umas 12 horas". Ainda com os olhos no mapa e os dedos postos como copaço medindo a distância entre o Brasil e o Canadá, respondi: "beleza então... mesmo tempo que gasto do Rio pra Colatina no busão pau de arara pra ver mamãe... vamos quando pro Canadá?" Lembro perfeitamente da cara de incrédulo dele, tentando entender se eu estava fazendo uma piada ou falando sério.

Eu estava falando sério...

É claro que naquele primeiro momento "vamos quando?" era mesmo uma piada. Até parece que é tão fácil assim, né? Eu mesma não tinha muita noção do que era tudo isso. O que era Canadá, o que era o Quebec... mas foi naquele exato momento que nasceu essa vontade de mudar e aceitar esse desafio. Lá naquele apartamento em Copacabana, nós dois começávamos o nosso grande negocio que era imigrar. Um colocou a lenha, o outro acendeu o fogo, e logo começamos todo aquele blá blá blá de processo, de espera, angustia, vida parada... que todos os candidatos a imigrantes já estão cansados de saber. Estuda daqui, pesquisa de lá, abre a mão de uma coisa, se adapta a outras, se despede, se desapega, se apega outra vez... e quando tudo parecia já estar entrando nos eixos novamente, a duplinha de coragem sem limites dá a louca no cabeçote e resolve começar tudo outra vez.

O Quebec não foi exatamente a primeira opção no processo de imigração, foi a oportunidade, eu gosto dessa ideia, e ela é a pura verdade... Quebec foi a oportunidade, mas aí eu entro em outro assunto, e acho melhor deixar isso para um novo post...

Por enquanto fica a despedida do Quebec, um lugar que eu aprendi a gostar... um outro país dendro do Canadá. Um lugar com suas qualidades e seus defeitos. Meu coração ficou maior quando eu aprendi gostar de Montreal, e ficou triste quando o deixei... para trás fica a primeira experiência Canadense, ficam amigos, um caminho que começou a ser traçado desde lá do Brasil, momentos de tristeza e de muitas alegrias... e fica também, deixado sobre a estante de livros já vazia, o postal presente desde o começo dessa história...

Até qualquer dia, Montreal...
Au revoir, Quebec...