Assim como eu fiz quando fui para o Rio, mamy queria que eu colocasse a famigerada panela de pressão na mala quando vim para o Canadá. Só quem sabe a preocupação da minha mãe com as minhas doses diárias de feijão, pode entender a necessidade dela em mandar essa panela pros estrangeiros.

Alguém aí já colocou a panela de pressão na mala e trouxe? Eu confesso que já havia até estudado o melhor angulo para encaixá-la dentro da mala e calculei a quantidade de meias que iriam recheá-la, mas o estraga prazeres de mãe preocupada com as doses diárias de feijão da filha, o marido, disse que os fogões daqui eram modernidade pura e que talvez não fosse seguro usar a panela brasuca de gás butano num fogão elétrico, blá, blá, blá...

Num sei se faz sentido, só sei que panela de pressão brasuca ficou lá em Colatina, mas mamãe me fez prometer que eu iria comprar outra. Pois bem, chegamos aqui e fui procurar a panela de pressão...

E ainda bem que não sou cardíaca, porque senão teria morrido naquele dia. Minha Nossa Senhora dos Imigrantes Pobres, o que era o preço daquilo? Variavam entre $75 e $200 dólares!!!!!! E nesse dia ainda vi uma árabe comprando uma e-n-o-r-m-e que custava mais de $100 com uma cara de "nossa, que barganha". Ó-de-o, porque ou eu que sou muito pobre ou uma panela de pressão lá nas arábias deve custar mais ainda do que aqui.

Claro que não comprei, me revoltei e fui comprar feijão de lata. Não é caro, é até gostoso e dá pra variar bastante nos tipos de grãos. Mas para um brasileiro de valor, meio quilo de feijão é o mínimo aceitável para se ter numa semana, não é mesmo? E apesar da sua conveniência, não rendia muito, nem colocando água, e além disso, tinha sal pra dedéu, desse jeito não estava sendo uma opção tão saudável como deveria ser.

Então eu tive a brilhante ideia de cozinhar na panela normal mesmo, que cozinhava depois de duas horas o danado do grão de feijão. Não era aquela coisa que se diz... "nossa que maravilha de feijão", mas dava pra fazer o acompanhamento do arroz e a alegria de mamãe.

Enquanto a gente morava no apartamento onde a energia elétrica estava incluída no preço do aluguel, a gente ia levando o feijão cozido nas duas horas, mas daí a gente se mudou e no novo apartamento a energia vem separada. Pão-dura-mão-de-vaca-economica que sou, nem ousei cozinhar um feijãozinho por duas horas pra saber quanto custava, comprei a latinha amiga sem pestanejar e comecei a caçada a panela de pressão barata.

Diz a lenda que deeee-veeeez-eeeeem-quaaaaando dá pra comprar uma panela de pressão bem barata na promoção. Um casal de amigos de Montreal diz que comprou uma na Canadian Tire por $24,00 e confesso que muitas vezes achava que eles estavam de onda com a minha cara, porque com mais de um ano de Canadá, eu ainda não tinha tido a sorte de achar, mesmo passeando por aquela sessão com certa frequência e sempre dando um oi para as panelas. Pesquisando aqui nas bandas do ROC, eu já havia achado uma de $49,90 no Ikea, que me parecia muito boa, e que mesmo amargando no preço, estava disposta a pagar. E se eu ainda não acreditasse na lenda, talvez tinha até comprado...

Sempre antes de fazer as comprinhas do mercado dou uma olhada nos folhetos das promoções da semana. Nesse dia, estava fazendo a listinha das pechinchas quando de repente me deparei com a lenda da promoção: 50% de desconto em todas as panelas de pressão daquela loja. Quase não acreditei, a panela de pressão num preço lendário estava bem ali na minha frente!!!

Era sexta-feira, a noite já caia sobre a cidade e eu sem pensar nas consequências dos meus atos, dei um pulo da cadeira, sacudi o folheto da loja na frente do marido, agarrei o braço dele, peguei a bolsa e saímos correndo pra loja mais perto daqui de casa!

Era o primeiro dia da promoção, mas e o medo de chegar lá e não ter mais??? Corri em direção a loja, conseguia até ouvir a musiquinha das olimpíadas ao me aproximar da pilha de panelas no meio da loja, tanam nam nam namm nammmm... podia confirmar o descontão tão inacreditável a distância, e mesmo correndo, podia ver a cena das minhas mãos pegando uma caixa se realizando em slow motion...  fui conferir o preço na maquina, precisava confirmar se não era mesmo uma lenda... hahahahahahaha.

Quando a maquina confirmou o descontão $24,99 (!!!) saí correndo mais uma vez olimpicamente em direção ao caixa e adquiri assim, finalmente e para alegria geral de uma mãe colatinense, a minha primeira panela de pressão gringa! Depois de pagar, ergui a panela, olhei para a câmera de segurança (alguém afinal precisava registrar aquele momento) e disse lentamente: "É   p r a   v o c ê   m ã e !". Claro que tudo isso aconteceu de uma forma um pouquinho, mas só um pouquinho, menos cinematográfica do que essa... rsss

E então como proprietários de uma panela de pressão, voltamos para casa muito alegremente e cantarolando aquela canção...

Comprei uma panela de pressão... tururu tchu tchu...

Quanta alegria! E quanta mudernidade também, gente! A nossa é a mais simplinha do mercado e só de válvulas de segurança a bichinha tem 3. Só falta mesmo falar. Acho até que tem uma lá na loja que fala, sabe? Porque por aquele preço, 200 doletas (!) deve chamar a gente pelo nome quando a comida fica pronta "Dona Maria, acabei!". Mas eu não quis saber muito dela não, sabe? Por aquele preço, fiquei com medo dela além de falar, também ter o poder de hipnotizar e te convencer a levá-la pra casa, #medo!

E depois de 1 ano e meio, finalmente pudemos comer em casa um feijão de verdade, com um caldinho cremoso, com grãos macios e com muitas folhinhas de louro, para alegria de um marido carioca.

E para fechar com chave de ouro, a fotinho da mais nova estrela dessa cozinha, a panela de pressão:

 (ciumenta, mimosa enxerida queria aparecer na foto também... rsss)

Quando a gente começou com essa historia de imigração, uma das primeiras a primeira pergunta foi: qual cidade? Como todo bom candidato a imigrante, começamos nossas pesquisas pelo bom e não tão velho assim, St. Google. Foi nesse momento que começamos a descobrir os blogs dos brasileiros, suas experiências e dicas.

A partir daí começamos a definir critérios, pesquisamos economia, criminalidade, distância da terrinha e principalmente e principalmente-mente-mente mesmo, o clima. Nem precisa dizer que após uma longa, extensa e incansável pesquisa, escolhemos, ninguém mais, ninguém menos, que a quase perfeita Vancouver. A partir desse momento focamos todas as nossas pesquisas em Vancouver, lendo blogs de brasileiros que já viviam por lá, ouvindo a 95 crave (hoje Virgin) o dia todo, assistindo e lendo o jornal local... enfim, eramos uns Vancouvernáticos.

Processo finalizado, passaporte em mão, vistos devidamente colados e carimbados, então currículos começaram a ser panfletados, perfis nos sites de jobs começaram a ser atualizados, e como era de se esperar, a oportunidade apareceu. Acontece que nem tudo (ou quase nada) é do jeitinho que a gente quer, e o fantasma da "Primeira Experiência Canadense" assombrava nossas noites, então não pestanejamos, arrumamos nossas malinhas e partimos para Montreal.

Montreal nunca passou pela nossa cabeça lá no inicio da coleta de informação. Mas quando ela passou a ser uma opção oferecendo a primeira experiencia de trabalho, começamos a pesquisar e estudar francês o mais rápido possível, mesmo sendo na prorrogação do segundo tempo. No começo foi um pouco difícil aceitar a ideia, mas decidimos que era a melhor opção pra gente, respiramos fundo e fomos.

Foram 1 ano, 4 meses e 4 dias de Montreal, que podemos dividir também em duas primaveras, 1 inverno e meio e 1 outono, dias muito bem vividos e aproveitados.

E depois de tudo isso vivido, a história se repetiu, a oportunidade bate a porta outra vez. E a resposta pra ela foi um novo sim. Marido achou a oportunidade muito boa, e eu, bem... ultimamente tenho vivido uma vida de madame, só faço estudar, então pra mim foi fácil, só mudei de escola.

Claro que a parte ruim foi deixar todos os novos amigos e o conforto de já estar num lugar onde a gente já se sentia em casa, mas isso fazia parte da nossa decisão. E apesar de ainda não ser a nossa Vancouver querida, com praias e montanhas, bom... Toronto tem um clima de cidade grande, aquela agitação que a gente sentia no Rio de Janeiro e ainda tem um lago com praia de areia fininha e COM ONDA!!

É claro que não irão faltar comparações entre as duas cidades e nem novas descobertas, novas experiências e novos micos para minha coleção. O que significa também que teremos, muito mais assunto aqui pá nóis!

Isso significa também, e talvez principalmente, que o propósito desse blog continua sendo seguido e que eu mais uma vez sigo Mudando a Vida...

Se você quer saber como vai continuar essa história, não perca o próximo capitulo, nesse mesmo endereço, nesse mesmo lugar!

Até  lá!