C/C: Para Mãe Natureza

Querido São Pedro,

Antes de mais nada queria te parabenizar pelo excelente trabalho com a preparação da cidade para o natal. As guirlandas dos postes, o pequenos pinheirinhos dos canteiros, os enfeites natalinos dos quintais das casas, as luzinhas das varandas, as vitrines da lojas, os carros, as ruas, as avenidas e o telhado das casas, estão todo em perfeita harmonia decorativa com a neve que você mandou. Parabéns!


Mas Pedro, sem querer criticar o seu excelente trabalho, mas acho que você não deveria se deixar influenciar pelo comércio. Eu sei, a pressão é grande, os enfeites são bonitos, a músicas gruda  na cabeça... Mas Pedrão, é comércio! Seja forte! Ó, eu estou resistindo bravamente, todas as vezes que me pego cantarolando uma cantiga natalina, eu emendo com outra qualquer e disfarço. Não sei pra quem, mas disfarço!

Poxa Pedrão, a grama ainda estava verde, olhei lá pra fora agora a pouco e não dá nem pra ver a pontinha do gravetinho, tá tudo coberto de branco!  Essa semana mesmo, lá no começo ainda, quando você não tinha sido contagiado pelo clima do natal, eu me lembro de ter olhado por essa mesma janela, e visto a grama verde. Até pensei: Nossa, grama é muito resistente, apesar do frio que está fazendo, dos cachorrinhos andando por cima dela, das cacás e pipís, ela está lá, verdinha e bonita. Cheguei até a pensar que ela estava mais verde agora diante dessas adversidades, do que no primavera, aquela estação que eu tanto amo. Mas daí veio você, com a sua decoração, e congelou a pobrezinha. Probrezinha da grama Pedrão! Foi um pouquinho de exagero, não foi?


Você mais do que ninguém sabe que eu não sou muito fã do outono. Ver as folhinhas amarelando, os patinhos e os passarinhos partindo para o sul, os frio chegando... me deixam melancólica, não sabe? E você sabe também a surpresa gostosa que é, não ter neve durante toooodo o mês de novembro e dezembro, e esperar que os primeiros floquinhos cinematográficos caiam pela janela, na noite do dia 24. Fica aquele suspense! Que momento mágico. Posso fechar agora meus olhos e ver uma criança com seus olhinhos brilhando numa janela, na noite de natal. Sonhando com o bom velhinho e suas renas numa linda e mágica noite branca. É um sentimento tão bom, de que tudo é possível! Mas dessa vez, a neve chegou ainda com algumas folhinhas amarelas por aí...

É importante ter neve, mas deixa chegar Dezembro pra dar mais emoção. Pra gente patinar, esquiar e fazer skibunda. Até o bom velhinho precisa de neve para tornar todos esses sonhos reais... é por ela que ele desliza o seu trenó pelos telhados das casas. Eu sei disso, eu vi num filme! E falando em Noel, você já o viu esse ano? Eu acho que ele está uns quilinhos mais magro. Sim, estou te dizendo, eu o vi ontem mesmo no shopping... sinceramente, esse Noel é outro que se deixou influenciar pelo comércio, antigamente eu o via lá pelo dia 24, distribuindo balas pelo Bairro Aparecida sobre uma saveiro branca cheia de laços. Agora, novembro mal começa e ele já está todo serelepe no shopping posando pra foto. E, isso mesmo, foto! Na época da saveiro não tinha essas chiquezas não, ela um tchauzinho e pronto. Agora está fazendo dieta, e pelo visto  deve ter contratado mais duendes para trabalhar enquanto ele posa para foto... não, pensando bem, ele deve ter terceirizado o serviço para os Oompa-loompas, eles sim sabem administrar tarefas como ninguém, e o Noel, ahhh... esse adora "delegar" tarefas.... Tá sempre dizendo que o presente só depende do seu trabalho durante o ano todo... Um pena sabe? Eu até gostava como era antes. Era mais místico... aquele tchau de cima da saveiro... num dava nem tempo de dizer: Papai noel, não esquece a minha Caloi!

Acabo de ver o cornudo de la mota niveladora limpado toda a cage lá fora... tá ficando difícil assim... antigamente, eu digo, há uns quase 4 anos quando eu me tornei vizinha do circulo polar ártico  era... "hoy nevó, que linda é la neve, acorde e tudo estava cobierdo de branco como una target postal..." E agora estou conseguindo me concentrar só na parte parte do "mierda blanca"... (se não sabe do que estou falando clique aqui). Novembro ainda Pedroca! A ultima neve do inverno 2014 foi quando? Junho?



O pessoal de Buffalo também não está nada feliz com essa sua animação em decorar a cidade, e estão dizendo por aí que você exagerou  (tá vendo, não sou só eu). Rolou uma baguncinha por lá, não foi Pedrinho? Pessoal não sai na rua, não sai de carro, não sai a pé, não abre nem a porta da frente!!! Bem, quero dizer, tem alguns que estão até conseguindo abrir...



A prefeitura falou que vai demorar alguns dias pra limpar a bagunça... se você quer o conselho de quem te gosta muito, não apareça por lá tão cedo... deixa passar dezembro, janeiro até, se der... pessoal está bem bravo por lá...

Bom Pedrinho, vou terminando por aqui, quero mais uma vez te parabenizar por esse lindo trabalho decorando todo o território aqui do norte. E só mais uma coisinha, não vai gastar toda a energia produzindo gelo aqui pra cima e esquecer de mandar um ar fresco lá pra baixo, tá? As vezes eu acho que você se empolga tanto com o natal por aqui e depois tem que fazer racionamento de energia, deixando Dezembro no tropico de capricórnio num verdadeiro caldeirão do Luciraldo. Não me faça ficar com saudade dos graus negativos de Dezembro não, tá? Seja amigo!

Um grande abraço,
de quem te adora e admira muito.


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Me recuso, me recuso e me recuso!
Me recuso a usar casaco.
Me recuso!
Tá... tenho que usar, né?
Afinal estou no Canadá e isso é uma questão de sobrevivência... Mas aquele casaco estilo missão Antártida, vou usar não, vou resistir o quanto puder!

Hoje é primeiro de novembro e extraoficialmente o primeiro dia do inverno. Pelo menos para o antigo povo da Irlanda céltica era. Eles celebravam o último dia do verão no dia 31 de outubro, quando havia então somente duas estações, verão e inverno. Era até feriado! Dia de comemorar a última colheira do ano, tirar o rebanho do pasto e se preparar para o inverno. É daí também que vem a tradição do Halloween... 

Até faz sentido, se a gente pensar que é em novembro que a primeira neve cai e as temperaturas estão bem pertinho de zero, quando não negativas. Mas não sei se gosto da ideia porque apesar de ser bom ter o verão oficialmente até outubro, mesmo já estando frio, sair do verão e cair no inverno de um dia para o outro é estranho, não tem aquela transição psicológica do outono, deixando tudo amarelo e mais introspectivo, e frio, e lento... Podem chamar isso de papo de maluco, mas as estações definidas ditam moda e comportamento. Acreditem!

Tem uma tradição que diz que a primeira neve do ano cai no dia 31 de outubro, no Halloween. Esse é o meu terceiro Halloween no Canadá e o segundo que a danadinha aparece no final de outubro/início de novembro, mesmo que discretamente. Ontem a noite estava bem frio, e chovendo. Essa manhã junto com a chuva eu vi floquinhos de neve. Sim, ela, a neve. O povo céltico da Irlanda não era bobo não... mas eu acho que ainda prefiro como está agora, com o outono no meio para preparar a gente...

Eu tenho reparado que muitas pessoas já estão usando casaco e botas de inverno na rua. Eu ainda não senti necessidade, e já até achei um exagero de alguns... francamente 7 graus não precisa disso, não é? Eu mesma já tracei essa meta pra mim, só uso casaco de inverno quando a temperatura atingir graus negativos! Eu no começo havia traçado a meta de usar casaco de inverno só quando o inverno começasse mesmo (21 de Dezembro), vi que não iria dar certo, mudei pra inicio de Dezembro, vi que também não iria dar certo, mudei para quando ficar negativo... mais sensato, né? Mamãe que está sempre preocupada se eu estou bem agasalhada, agradece... hahahahahahahahaha

Agora lá fora estão 2 graus positivos com sensação de menos dois, o que não conta, claro! Marido já me chamou duas vezes só hoje para desempacotar os casacos de inverno, e eu estou enrolando ele, tadinho, que já está fazendo uso de 3 calças desde outubro... Ahh gente, francamente, eu preciso de apoio, não se faz revolução com um revolucionário só! Ele vai ter que resistir comigo, e sem escolha, tá escrito lá nas letras miúdas: na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, no verão e no inverno... com casaco e sem casaco... Ele não sabe disso, mas está lá, juro!

Minha meta agora é usar o casaco missão Antártida quando a temperatura estiver abaixo de zero. Será que eu conseguirei? Será que eu conseguirei enrolar o marido até lá? Se você quer saber como terminará essa história, não perca as cenas do próximo capitulo, nesse mesmo canal!



A loja de 1.99 mas popular por aqui é a Dollarama, que não é exatamente 1,99, já que os artigos vão de 1 a 3 dólares, podendo achar coisas de 0.79 centavos também,  mas eu carinhosamente chamo a Dollarama de 1,99.  

Dollarama é a alegria da brasileirada, tem para o turista que quer levar aquela lembrancinha  pra alguém, e para o recém chegado que precisa de uns apetrechos de casa, tem muitas coisinhas legais lá, de decoração a comida...  mas tem outras bem mequetrefes também, sem chance de reclamação depois... Dollarama é bem legal, eu acho até que merece um postinho só pra ela...

Ainda era agosto quanto eu ouvi a moça da radio dizendo que tinha entrado na Dollarama e se deparado com um monte de coisas para o Halloween. Agosto ainda estava calor, ainda era verão! E já tinha coisas do Halloween! Tipo, Halloween que é no dia 31 de outubro, quando as folhas que tinham que ficar vermelhas já ficaram, e as folhas que tinham que cair, já cairam.... quando o frio que tinha que fazer, já começou a fazer e quando a primeira neve do ano cai!

Sim minha gente boa, a primeira neve do ano as vezes cai em outubro, ou-tu-bro, o-u-t-u-b-r-o! Então desde aquela notícia na rádio, eu não tenho entrado na Dollarama, nem se quer pra comprar o chocolatinho nosso de cada dia. 

Promessa feita, promessa cumprida. Resisti bravamente, 3 meses sem chocolatinho da dollarama, e francamente, mereço parabéns.




Pois que setembro chegou, setembro acabou, outubro chegou, outubro acabou e eu então resolvi entrar lá para comprar umas distrações de boca para o cinema. 

Estava indo muito bem, fui direitinho no chocolatinho e comestíveis sem demais distrações com as bugigangas,  no caminho até o caixa por um corredor que ainda havia coisas de Halloween, foi quando eu vi entre aqueles chapéus de bruxa, capas de vampiro e chifres de capeta, ENFEITES DE NATAL!!!!!



Fiquei três meses sem entrar no 1.99 achando que ver enfeites de Halloween no meio de agosto iria me deprimir, já que ainda estava com o gostinho do verão na boca, e no entanto dou de cara com enfeites de natal! Socorro! Dollarama para de acelerar o inverno!

E já que agora não tem mais jeito, e eu já passei pelo choque do "Já e Natal na Lider Magazine", o jeito é continuar passando lá pra manter o estoque de chocolate. Vamos ver quando eles vão trocar tudo novamente para o que vem depois do ano novo. Valentines Day talvez? Eu estou apostando que antes do dia 25 de dezembro os coraçõezinhos já estão todos espalhados por lá... 
Hoje voltando do trabalho vi um passarinho num galho todo amuadinho com as peninhas arrepiadas. Mandei logo uma real:

- Aê passarinho, tá esperando o quê? Te manda daqui! FOGE PRO SUL! Ali ó, naquela direção...  As coisas agora só vão piorar... Verão is over!

Por mais cara de desconfiado que ele tenha feito, senti que ele sabia que eu tinha razão...

Depois que inventaram esse negocio de email enviar ou receber uma cartinha ficou mais raro que nota de 1 real. A única coisa que chega na minha caixinha (física) do correio são contas. Na sua também?

Mas atire o primeiro mouse pad quem não gosta de receber uma cartinha, um postalzinho, um telegraminha, um negocim assim com amor, das mãos do carteiro?

Todo mundo ainda gosta dessa sensaçãozinha, vai.

Essa semana meu coraçãozinho bateu feliz, recebi uma caixinha amarela lá do Brasil. Quando sai do correio e fui em direção à minha casa, olhei para a caixa na minha mão e comecei a sorrir toda boba no meio da rua.

Cheguei em casa pimpona, e só a caixa amarelinha já estava bom pra mim, mas então eu abri a caixa e tamrammmmmmmm



Ahhh gente, abri um sorrisão, fiquei tão feliz, adorei tanto tanto tanto tanto tanto tanto e tanto o meu presente!

Providencial! Chegou na semana certa, na hora certa! Eu estou aqui no sofá agora escrevendo esse post, com meu chinelinho e minhas unhas personalizadas brasucas, para recalque das Canukas que não tem time pra torcer.

E a coisa é assim, aqui é Canadá, o Canadá não está na copa, buuuut tem imigrantes de todos os cantos do mundo, tem imigrante até de Colatina, imaginem!!! E desde a semana passada eu tenho visto na rua as pessoas colocando bandeirinhas nos carros (ou vestindo o carro todo), bandeiras na janela, colecionando figurinhas, e o mais legal, usando camisas dos seus times. E tem de tudo, tudo mesmo, do Croata ao Ganalense, Ganalano, Ganaciano, Ganancioso... (quem nasce em Gana é o que gente?). E muitas, muitas e muitas camisas brasileiras - onde esses brasileiros estavam esse tempo todo? O mais legal é que as vezes a gente vê um Filipino usando uma camisa do Brasil. Dá até um remociozinho porque eu que sou brasileira, mas não estou muito aí com a copa.

Minha amiga colombiana mesmo, sabe o horário de todos os jogos, e fica chocada quando eu falo que num sei nem que horas será a abertura (que horas vai ser afinal???). Mas eu vou assistir os jogos, vou nos bares Italianos, Portugueses e Espanhóis para assistir os jogos (vou assistir os do Brasil também, gente, calma) porque eu não quero de jeito nenhum perder a oportunidade de ver de perto esse povo todo que está tão longe da terrinha, se divertindo aqui. To sentindo que essa experiencia vai render muitos posts :)

E eu, eu vou de verde e amarelo, claurus, principalmente pra exibir meu presente e prestigiar meu amigo Anderson que teve toda essa criatividade de me mandar esse lindo presente - inclusive de acertar o tamanho do pé da Cinderela!

 Ganhar havainas é tão bommmmmmmm!!!!!!!!

Agora a parte engraçada da situação, que sempre tem que ter quando se trata da minha pessoa: meu amigo enviou a encomenda com um Aviso de Recebimento. Daí, a mocinha dá agencia que era chinesa, tirou o AR, olhou de um lado do papel, olhou do outro... olhou pra mim...
- "Isso daqui eu preciso mandar de volta, né? "
- "Isso, mesmo, é um aviso de recebimento"
- "Eu tenho que colocar o carimbo aqui, eu acho, o espaço é do tamanho do meu carimbo..." (olhar com dúvida)

Peguei o AR e olhei, foi então que tudo passou a fazer sentido pra mim, estava todo em português e em francês! Fiquei olhando pra cara dela e rindo.

-"Isso, aqui eu assino dizendo que recebi, aqui você assina e aqui você carimba."

Alguns segundos depois ela vira o cartão pra mim e pergunta "vê se fiz certo..."

A gente foi engraçado, eu traduzindo o AR pra funcionária... E espero que tenha chegado de volta. Chegou Anderson? rsss

Ahh, e já ia me esquecendo de dizer, mês que vem é meu níver, então o presente valeu por 2.

Essa foi a primeira vez em 3 anos de Canada que eu recebo algo do Brasil. Adorei meu amigo, obrigada por me proporcionar essa alegria de receber um presente vindo do Brasil-sil-sil-sil.

E se mais alguém quiser se corresponder comigo por cartinha, fique a vontade.

Boa copa a todos, com consciência para todo mundo, para aqueles que querem se manifestar e para aqueles que querem torcer.
 E a calça jeans, é coisa nossa...



Entrei na loja para me distrair com qualquer coisa enquanto esperava o horário do cinema, quando de repente, uma pilha de calças jeans me chamaram a atenção. Por todos os lados tinham etiquetas escrito: "BRAZIL".

Fiquei ali tentando entender  qual era do Brasil afinal: a fabricação? O modelo? A numeração? Não consegui entender, mas desconfio até agora, que o Brazil alí esta tentando mesmo é fazer uma propaganda para vender o produto com o SUPER STRETCH modelo Brazileiro, afinal tinham outras pilhas com os modelos "New York" e "Japan" mas não sei se eram super strecth. Sei lá como é isso, só sei que a pilha de calças do Streatch Brasileiro tava fazendo mais sucesso, de todos era o menor. Em tempos de copa, até calça modelo Brasileiro tá vendendo por aqui... então tá, né?
 Essa inexplicável sensação de achar que a minha casa é a casa da minha mãe, láaaaa nos confins de Colatina, essa sensação de olhar para tudo a minha volta e saber que é um sonho conquistado, mas ao mesmo tempo, não se sentir parte dele, essa sensação constante e infinita de ir, querendo ficar, ou a vontade de ficar, querendo sempre ir, que não passa nunca - nunca - ela tem uma explicação!

Há obviamente explicações com embasamento cientifico, que diz: uma vez imigrante, você nunca mais vai se sentir em casa novamente em lugar nenhum. Sempre fica a sensação de que algo está faltando. Que o imigrante sofre da síndrome da perda da memória ruim, e fica somente com as memórias boas do tempo vivido acolá.

Há também as modernidades da tecnologia, que traz aos filhos distantes da pátria mãe gentil, as noticias fresquinhas, seja das manifestações dos rodoviários ocorrida hoje pela manhã na presidente vargas, seja o servidor da prefeitura de Colatina que estacionou sobre a faixa de pedestre. Fatos que nos lembram da violência outrora vivida, da injustiça praticada deliberadamente, das desigualdades e das necessidades básicas de um povo sofrido desde o seu tempo de Brasil colonia.

Há a primavera. Ahhh... a primavera... a manifestação sutil e transformadora da mãe natureza, o brotinho de esperança que surge num coração invernal movido a vitamina D, e os 2 meses de verão que se seguem, que são tão intensos e cheios de festivais, atividades e diversão.

Mas adianta? Adianta tudo isso? Adianta ciência, tecnologia, diversão e relembrança de memória muitas vezes esquecida? Não, não adianta de nada meu povo, a mardita da vontade de ir querendo ficar não passa!

Hoje estava conversando com meu pai, e acabei por descobri o real motivo desta inquietude.

Conversar com ele é raro, quando ele não está atuando nas atividades aposentaduristicas do interior, ou seja, jogando dominó na praça da igreja como seus outros colegas de profissão-aposentado, ele já está dormindo. Ele acorda e dorme com as Colegas ~ Galinhas. Papys madruga ao primeiro cocoricar do Zé Tião, o Galo do vizinho da rua debaixo, aquele penado desgracento que começa a cantar as 5 da madrugada, e dorme com o boa noite do William Bonner.

Mas hoje papys skypou-me para contar as ultimas novidades do mundo colatinense, e papo vai, papo vem, lá pelas tantas alturas do rumo da proza, ele disse:

- Ah Fia* reza pra dar tudo certo. (ele está resolvendo uns por menores por lá)

- Claro pai, rezo sim, acendi até uma vela hoje. (pessoa de fé, muito lindo)

- Ahhh, reza mesmo. Eu também rezo pra você todos os dias. Peço ao Divino Pai Eterno todos os dias pra você voltar!


Parem as máquinas! Parem o mundo! Reúnam todos os cientistas! Chamem Robert Langdon! Descobrimos o enigma da humanidade!!!!!

"Reza todos os dias para EU VOLTAR!"

Num estilo bem Vera Verão disse:

- Pééééra aí! Deixa eu vê se entendi... Então eu fico aqui toda tristonha, cantando "saudade da minha terra" todo santo dia, fazendo terapia, enquanto o culpado é você! E eu esse tempo todo achando que o problema era eu, a ovelha desgarrada, a madalena arrependida, a deslocada socialmente, A FILHA PRODIGAAAAA! Paaaaaai!!!!!
 
Meu pai, é claro, teve um ataque de risos. Que eu até agora não sei se foi por que ele acabou deixando escapulir a vontade dele que eu volte, ou por ter quebrado uma teoria fundamentada da ciência humana.

Lembrando que nem meu pai, nem minha mãe, me cobram visitas ou se eu vou voltar. Eles sabem que a viagem é longa e cara, que depende de férias do trabalho e outros fatores. Eles sabem que já é suficientemente difícil para todas as partes ficar distante. Não tomar café juntos pela manhã, não reclamar um do outro, não estar juntos nas festividades familiares ou nos aniversário. Então porque cobrar? Então eles nunca, nunca cobram.

Mas dessa vez ele deixou escapar, e a cara dele foi impagável!

- Pai, pesquisadores escrevem teorias sobre isso, imigrantes debatem esse tema diariamente, e eu aqui pesquisando, lendo, fazendo terapia, tentando entender!!!! Enquanto tudo na verdade e obra e intervenção celestial do Divino!
 
Senti uma certa alegria no olhar de papys quando disse que voltar é um assunto que entrevem meus pensamentos vez e sempre. Acho até que ele deu uma olhada de rabo de olho pra imagem do Divino Pai Eterno que estava ali de lado e deu uma piscadela: "Ae Divino, tá funcionando!"

Mas agora pelo menos sei que essa vontade de ir querendo ficar que nunca passa não precisa mais de terapia, nem pesquisas, nem longos debates intelectuais, agora eu sei que a culpa toda é da novena do Divino Pai Eterno que meu pai faz todo santo dia!

E você, imigrante amigo, que sofre, já sofreu ou que ainda sofrerá desse mal, lembre-se, alguém em algum lugar poderá estar fazendo a novena do Divino Pai Eterno pra você também!

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* Fia - s.f., derivação regressiva de Filha, maneira Brejeira do Papys se referir a sua filha, nesse caso, eu mesma.


(derivação regressiva de filhar)

"filha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/filha [consultado em 16-05-201
Diazinhos quentes começando a virar rotina, yupiiiiiiii
Hoje mesmo pela manhã estavam 18 graus celsius po-si-ti-vos.

E 18 graus é quente?????
Cariocas lendo essa frase agora:


Sim, é quente sim meu povo, eu tô vivendo abaixo de zero há 6 meses!!!! Usando casaco, luva, touca e bota há 6 messes!!! 6 m-e-s-e-s!

Eu sei, eu sei.. 18 graus no Rio de Janeiro (ou em Colatina) e motivo para ficar em casa, enrolado no edredon comendo um fondue (no sentido gastronomico). Mas aqui no Canadá não, ahhh não, aqui 18 graus positivos é uma maravilha amiguinhos. Com sol ainda, é PARADISE. Dá para sair na rua de chinelo, de camiseta, dá pra sentir o vento no rosto sem morrer, dá pra pisar na graminha verde, dá pra trolar os esquilos fazendo barulho com sacolas, os passarinhos voltam a cantar... ahhh gente, dá até pra gostar mais desse país assim desse jeito...

E nessa época, a gente fica assim, olhando a temperatura e a previsão do tempo, abrindo a janela e vendo qual é do vento lá fora, que as vezes ainda está frio pra sair pimpão sem um casaquinho, mas as vezes tá calorzinho que dá até pra se atrever de camiseta regata. E na primeira possibilidade a gente se joga lá fora, vai sem rumo mesmo...

É nessa época também que as primeiras florzinhas da primavera desabrocham. A primeira a chegar é a Tulipa. Os canteiros de Tulipas são lindíssimos, mas são passageiros. Se você quer vê-los é preciso ser rápido. Tem que sair de casa mesmo que esteja frio e com chuva! Os canteiros duram coisa de 1 semana, e as bichinhas não esperam não, deu a hora elas desabrocham, mesmo porque elas estavam lá debaixo da terra esperando seu momento de esplendor desde outubro (essa história merece um post!).

Antes de viver aqui, eu havia visto Tulipa somente no mercado, eram feinhas e beeeeem carinhas.

Mas aqui não minha gente. Tulipa nesse país é mato. E dá em todos os lugares.

No canteiro maltratado:



no pedacinho de terra entre uma cerca e outra


 bem embaixo da placa



 escondidinho e solitário no meio do árbusto...



 Mas tem canteiro organizadinho, divididinho e bunitinho também:






Lindo, né?
E agora é a vez das cerejeiras, lindas, perfumadas, encantadoras... mais isso já é assunto para outro post!
Estou vivendo há mais de 6 meses debaixo do meu casaco e alimentando meu coração invernal com vitamina D 10000ui, 3 comprimidos por dia. No calendário a data diz, é oficialmente Primavera. #SóQueNão!

Ainda tá frio, ainda tem neve no chão, ainda tem previsão de neve (e neva) ainda tenho que usar aquele casaco e ainda tem temperaturas bemmm baixas. Tô feliz? Tô não amiguinhos... quero andar na rua, fazer uma caminhada, respirar profundamente um ar puro, sem-morrer-de-pneumonia! Quero usar short e camiseta, quero andar livre sem me preocupar com a distancia que vou percorrer. Quero ver as árvores com folhas, as brotinhos surgindo com flores e a grama verdinha como as vaquinhas felizes. Mas cadê a primavera amiga para a nossa alegria???

Não dá para acreditar, a gente fica esperando a primavera chegar, achando que quando ela chegar "oficialmente" as coisas vão mudar. Mas não muda nada, ela chega e continua frio! Socorro!!!

Hoje mesmo, quase junho, e a temperatura estava pela manhã 5 graus! O céu nublado quase sempre e chovendo muito.

A primavera, essa safada, já começou faz tempo, e a minha esperança já estava quase sendo consumida pelo desanimo, foi quando finalmente eu vi. Ali estava ele. Discreto, escondidinho na paisagem cinzenta, ainda tímido... o brotinho!



Gente, vocês não fazem ideia do que é ver um brotinho! Eu sei que no Brasil essa passagem das estações nem existe, por isso talvez fica difícil entender a alegria do pobre.

Mas a felicidade é tamanha, que a vontade que dá e de reverenciar o brotinho, fazer a dancinha da alegria em volta da plantinha, dar beijos no galhinho, abraçar a árvore e  falar pra todo mundo que está passando: "olham, venham ver, é um brotinho! Ele chegou! Vamos festejar!"

E então todos se abraçam e começam a dançar alegremente em volta da árvore.

"Let the sunshine, 
Let the sunshine in
The suuuuun-shine iiiin"


Pelo menos na minha imaginação isso é bem bonito!

Mas voltando ao assunto.... E o canto do passarinho, gente? O primeiro "piu" que a gente ouve dos primeiros que voltam do sul, ecoa no coração da gente. E eu não estou exagerando.

Chegou a rolar uma lagrima de emoção aqui... 

E então a esperança se renova. E a magia acontece em poucos dias. Em uma semana a paisagem cinzenta começa a ganhar cor, tons de verdes, botões de flores... e então uma bela tarde, finalmente fazem 18 graus com sol e finalmente-mente você sai na rua, de camiseta e short, se sentindo meio estranho, desengonçado com essa nova endumentária, mas feliz! Finalmente feliz! E sem comprimidos!

E tudo começa a ser diferente! A rua fica colorida. A prefeitura coloca vasos de flores nos postes, os bares e restaurantes abrem os pátios, é finalmente a Primavera! Vamos rolar na grama, vamos ser feliz!


E que venha o verão!!!




Esse clipe é exatamente o que eu quero dizer! Eu dançando e as folhinhas nascendo! hahahahahahahaha
A primavera é de todas as quatro estações a minha favorita.

Eu percebo nessa época, além da mudança de cenário, uma mudança de comportamento. E não sou só eu, nem os seres humanos (humanos?) que moram na zona temperada do norte que gostam da primavera, tem muito mais seres por aí que veem em abril um sopro, mesmo que ainda congelante, de esperança e alegria.

As vaquinhas, vejam só vocês meus caros amigos, o animal sagrado da Índia, também são tocadas por esse impeto sentimento de felicidade primaveril:



O video acima foi de 2011, abaixo o filme é de 2012, o que só prova que o inverno é longo e tenebroso para todos, ano após ano!




E esse video é de uma fundação que cuida das vaquinhas aposentadas (aquelas que estão velhinhas para terem bebês e produzirem leite).




Ahh gente, fiquei emocionada com o fazendeiro....

Enfim, essa é a metáfora da minha vida, viver nesse longo inverno da depressão, mas saber que quando menos se esperar um soprinho de brisa morna vem do sul, trazendo brotinhos e grama verde pra gente pular e rolar... #somostodosvaquinhas ~ pelo menos aqui no canadá! hahahahahaahahahahahahaha

O horário de verão começou ontem mas o verão mesmo só começa em junho, dia 21 de junho de 2014, às 10:51 para ser mais precisa, momento muito aguardado para quem está aqui no norte, diga-se-de-passagem.

MAS QUEM SE IMPORTA!!! Horário de verão é uma alegria só minha gente boa do país tropical! A gente aqui esta curtindo o negócio da hibernação desde novembro (foi quando eu tirei do armário meu casaco!!!!) e lá pelas 4 da tarde já era noite. Muito triste gente :(

Sol se pondo às 6 é a promessa de que há esperanças, principalmente para a árvore ali da frete!

Ter luz do sol às 6 da tarde é uma alegria tão grande que dá até vontande de dançar na sala.

E pra alegria ficar completa só tá faltando mesmo ficar positivo, derreter a neve, ver a cor da terra outra vez, ter menos céu cinza, a grama ficar verde, as árvores voltarem a ter folhas, os animais sairem das tocas, os passarinhos voltarem do sul, o casaco voltar pro armário, todos os insetos reaparecerem, o chinelo passear na rua, ter desfiles de perconas brancas na calçada, vestir camiseta sem manga, deitar na grama pra pegar um bronze, ficar com marquinha de motorista de caminhão, a água do lago voltar ao estado líquido, a loja de 1,99 vender brinquedos aquáticos, as piscinas públicas reabrirem, o vendedor de algodão doce reaparecer, e chegar 21 de junho às 10:51, acho que é só isso...

foto de: jonathan ragozzinoMarch 10, 2014Mississauga, Ontario Canada http://www.theweathernetwork.com
Sábado recebemos um convite interessante, assistir a final do hochey masculino nas olimpíadas de inverno na casa de um amigo de trabalho do marido. Apoiei a ideia e marido se animou.

O jogo era as 7 horas da manhã, 10 pessoas já haviam confirmado que iriam, e a ideia era tomar café da manhã na casa dele assistindo o jogo. Que coragem acordar cedo em pleno domingo pra assistir um jogo, mas gente, eu não podia deixar de curtir essa experiência, não é?

Reloginho tocou as 6 da madruga, chamamos um taxi, enrolamos nossos quitutes matinais num pano de prato num bom estilo colatinense de ser e lá fomos nós.

A experiencia me fez pensar na copa, que saudade de torcer em família e ouvir os gritos dos vizinhos e a criançada na rua... tá vai, difícil fazer isso aqui ainda mais em fevereiro, com esse frio vortexante de congelar as juntas, mas que dá saudade, ahhh dá!

O canadense é muito educado, muito do tipo muito mesmo, daqueles que se você pisar no pé dele ele vai te pedir desculpa por ter deixado o pé ali... é lindo de se ver. Mas na hora do jogo, no jogo de hockey, a paixão nacional desse país, a educação, ó meu Deus, o que acontece com toda aquela educação?


Continua lá, sem tirar nem por, íntegra.

Jogo rolando, jogadores patinando, caindo e se trombando, tempo correndo, final do hockey nas olimpíadas, valendo ouro!

E a torcida?

A torcida ali naquela sala não grita, não chora, não xinga quando aquela falta acontece.

Gooooool!!!!!

Gente, vamos nos abraçar, vamos gritar, Hi Five aqui colega, foi gol!!!  - ahhh sim, aquele disco quando entra na travinha se diz gol também; Mas não, nada de euforia, nada de ninguém indo gritar gol na janela para os vizinhos ouvirem  - bom, nesse caso a gente até entende porque... Cadê a algazarra, não tem a vuvuzela nem a cachirola, num tem nem nome folclórico para a bola o disco. Esse povo não xinga o juiz, nem a mãe dele. Esse povo é muito contido, polido, educado, refinado... Decidi ficar educadinha também, sabe? Primeiro pra não destoar do grupo, segundo porque eu só tinha certeza do gol no repeteco, efeito retardado num dava, né? Ô coisa difícil é ver aquele disco entrando na trave no meio daquela confusão...




Bom, daí aconteceu o intervalo, e eles se levantaram e foram pra mesa tomar o café da manhã, porque até então estavam todos com apenas o copo de café na mão olhando concentrados para a tela da tv, quase que sem respirar... na mesa de café tinham frutas, um pãozinho recheado com alguma coisa doce, um bolo de milho maravilhoso, bagel torrados com cream cheese, ovos e claro e obviamente, bacon.

Eu não sou muito boa na cozinha, mas bem, café da manhã né, lá vamos pensar no que fazer. Podia ter ido ao mercado e comprado uns biscoitos, ou um muffins, ou qualquer outra coisinha já PRONTA, mas não, fui eu pra cozinha, seguir a receita de bolo de milho ao pé da letra - sim, o bolo de milho maravilhoso era brazuca - segui cada graminha de farinha de trigo para não dar errado e levar uma coisinha especial e receita brasileira, pensando que isso seria um grande feito, adorado e aclamado pela multidão.

Preparamos o bolo na noite anterior, e quando o alarme do forno tocou, fomos lá... e que puxa, como cresceu, tá douradinho e cheiroso, e que alegria, deu tudo certo! Certeza que foi a ajuda do marido que fez o bolo ficar bom assim, afinal foi ele quem bateu todos os ingredientes, eu só medi as colheradas de trigo. Mão boa pra cozinha tem esse homem, o bolo ficou ótimo, devia fazer bolinhos e comidinhas mais vezes #ficaadica...

Mas voltando ao assunto do café da manhã e deixando os apelos culinários ao marido pra outra hora, a mesa estava posta, intervalo de jogo, hora de tomar o café da manhã e nós estávamos prontos para receber os elogios. O primeiro se levantou, pegou um pãozinho, um bagel, um pouco de ovo, um bacon e se sentou. Foi o outro, e o outro, e o outro, e o outro... a pilhas de ovos mexidos e bacon foram diminuindo, diminuindo... e o bolo, ninguém comia.

Eu é que não iria ficar só olhando para aquele bolo lindo ali, né? Comi 2 fatias, marido comeu 2 também, e o dono da casa (acho que pra não fazer desfeita) comeu um também. No final, não havia mais ovo nem bacon, mas o maravilhoso bolo de milho tinham sobrado mais da metade, o que não estava lá, tinha sido comido por mim e pelo marido. Eu fiquei olhando aquele bolo de milho douradinho, molhadinho e pensei, não vou comer mais mesmo, então deixa eu aproveitar e comer mais um pedacinho... marido fez o mesmo... que desaforo. Mas o bacon, ahhh esse eles devoraram!

O jogo voltou, os canadenses continuaram a torcer educadamente, fazendo algumas piadinhas, palhaçadinhas e comentários mas nada de gritos ou xingamentos, nada muito caloroso ou emocional... o jogo acabou, o Canadá ganhou de 2 a 0, ouro olímpico para a paixão nacional dos canukes. E o que aconteceu?




Sim, aplausos meus amigos, os 10 torcedores naquela salinha aplaudiram ao final do jogo. Um coisa contida, educada, singela, porem animada...

Mas não vamos generalizar, né povo... nem todo mundo é igual, tem canadense animado por aqui também, que inclusive desafiam a gravidade e se jogam nos braços da emoção:




Quem aí se lembra do prefeito figura de Toronto?

E o jogo terminou, decidimos ir para casa, peguei meu paninho de prato de volta, olhei pro meu bolinho que sobrava quase que todinho ali na mesa e fui me embora.





Confesso que fiquei tristonha, achei que nego iria se esbaldar com nosso bolinho. Será que bolo não faz parte do ritual matinal do café da manhã canadense? Saí de lá com um espírito de Scarlett O'Hara incorporado na minha pessoa jurando nunca mais fazer bolo pra nenhum evento mais, que da próxima vez eu levo biscoito Maria e pronto.




Exageros totais da minha parte, eu digo que valeu a experiência, foi muito interessante assistir ao jogo com os locais e observar tudo de perto, fez me sentir parte da sociedade, e isso pra gente que está aqui sem os amigos e a família é muito importante. Aprendi muitas coisas sobre a cultura local, e isso não tem valor que pague. Bom, quer dizer... ainda falta aprender mais sobre café da manhã.... rsssss
Os jogos olímpicos de inverno de 2010 foram em Vancouver. Era fevereiro, mas precisamente entre os dias 12 e 28. Eu trabalhava home office e tive a oportunidade de assistir aos jogos pela tv. Assisti tudo, da cerimônia de abertura e minha modalidade favorita, a patinação, até aquelas que eu não entendia absolutamente nada, como o Curling e Hockey. Adorava muito quando falavam alguma coisa sobre Vancouver ou sobre o Canadá. Eu via todo aquele frio, aquelas paisagens de cartão postal e não podia deixar de pensar em estar lá.

Não pode haver tempo mais quente do que Janeiro e Fevereiro no Brasil, imagine então eu naquele calor escaldante de fevereiro vendo aquela paisagem toda coberta de neve branquinha e sonhando com o Canada. Até então o frio mais frio que eu conhecia vinham de portas... ou da porta do banco, ou da porta da geladeira... hahahahahahahaha e naquela época aquele frio congelante me parecia, (vejam bem, eu disse, pa-re-cia) a coisa mais maravilhosa do mundo!

O ano de 2010 me trouxe muitas coisas, coisas que mudaram muito o meu ano de 2011. E foi em Fevereiro de 2011 que eu então descobri o que era o frio. Chegamos dia 15 de fevereiro, e pela janelinha do avião eu olhava, eu via, mas eu não acreditava. Era tão novo pra mim, tão bonito... eu perguntava, aquilo ali na pista é neve? Quando eu penso naquele dia, uma sequencia de imagens vem a minha memória, mas elas não correspondem a um tempo e espaço normal, eram muitas informações novas ao mesmo tempo, e tudo passa numa outra velocidade. Eu havia deixado minha casa há pouco mais de 24 horas, num sol Colatinense escaldante de quase quarenta graus, e chegado a uma terra cinza e branca de -19. Menos. Negativo. O que era aquilo?

Passa no banco, pega as malas, veste o casaco, compra a passagem do metro, colocou a ceroula? Procura o endereço, pergunta o endereço, pega a escada rolante, saí na rua, é a rua errada, confere no mapa, procura a luva, cadê a luva????

Descemos na estação certa do metro, mas saímos do lado errado, e tivemos que andar uma quadra a mais de distância. Parece um problema se fizesse isso no Brasil? Não né... pelo menos pra mim não pareceu. Peguei a minha mala, subi as escadas rolantes, e tarammmm: primeira barreira da nova vida, deslizar as rodinhas dos 24kgs de mala sobre os 20 e tantos centímetros de neve que cobriam a calçada. Uma quadra a mais. Na metade do caminho a mão começou a doer. Largamos a mala na neve, corremos para a entrada de um prédio e, ó Deus, obrigada por ter um aquecedor bem aqui...  Continuamos tentando puxar a mala pela neve, definitivamente rodinhas de mala foram feitas para o piso lisinho e lustroso do aeroporto, e só.

Mesmo com aquele frio congelando, com a dificuldade de arrastar a mala sobre a neve e todo o nervosismo que atravessava meu coração, eu não podia acreditar no que estava acontecendo comigo. Alguns arbustos cobertos de neve pelo caminho e isso era encantador, eu queria tocar, mas quando eu parava, parece que os dedos doíam mais... Estamos no Canadá!

Chegamos no sujinho, e assim começou a nossa história...
(e se você não sabe o que é o sujinho nem como começou essa história, clique aqui).

Jogos Olímpicos de Inverno de 2014,  Sochi. Aqui estou eu novamente, assistindo minha modalidade favorita, e torcendo muito para o Canadá! Aqui estou eu no Canadá! Entendo melhor o Hockey e esse tal de Curling (que eu prefiro pensar que é uma modalidade mais refrescante do jogo de Bocha do meu pai...). E agora assistindo e sentindo frio! E ironicamente, com saudade do calor...

Acho que nunca mais vou assistir um campeonato mundial da mesma forma. Hoje quando eu vejo um atleta ou um time de um país como Uzbequistão ou Azerbaidjão, eu me lembro de alguém que eu conheci. Sempre tem alguém de algum lugar que eu nunca imaginei que conheceria... coisas que só o Canadá pode te proporcionar...

Foram 3 anos, quanta coisa mudou na minha vida, quanta coisa eu aprendi, quanta coisa eu vivi. Foram mesmo só 3 anos? Parece muito, parece pouco... Parecem 3 anos muito bem vividos! Essa é a minha experiencia, a experiencia que eu vou levar por toda a minha vida. todas as dores, todas as alegrias, todas as idas e vindas. É por isso que eu mereço, é por isso que eu brindo, é por isso que eu digo: Parabéns para mim. Parabéns pelos meus 3 anos de Canadá!